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AÇUDE VELHO 180 Anos:

AÇUDE VELHO 180 Anos:

 

 O  Açude Velho testemunha 180 anos do progresso campinense


Açude Velho, o cartão postal da cidade completa 180 anos; a cidade cresceu e prosperou nestas margens



   Em 1828, a seca era a pior já presenciada na jovem região onde os índios da tribo ariús foram dominados. A sociedade rural predominava, a população ia aumentando e as pessoas já começavam a encontrar dificuldades para matar a sede e manter o verde de suas plantações. Foi aí que o Governo Provincial da Paraíba, num ato de extrema coragem, autorizou o início das obras de construção de um reservatório que pudesse ser suficiente para garantir o abastecimento de todos.

     Dois anos depois, em 1830, o Açude Velho estava pronto. Suas águas vinham do “Riacho das Piabas” que corria do bairro da Palmeira. Ao seu redor não paravam de chegar as famosas tropas de burros e seus condutores. Em suas bagagens, muito mais que produtos de todas as espécies (tecidos, alimentos, utensílios do lar, dentre outros), eles traziam o que se chamava de “civilização” e, aos poucos, foram povoando a vila e abrindo as portas da “Nova Rainha” para um futuro promissor.

        Com o término de sua construção, o Açude Velho passou a reunir a população às suas margens. Só não se misturava mesmo a sociedade latifundiária. Seu isolamento representava status e poder. Segundo o historiador Epaminondas Câmara, em seu livro “Os Alicerces de Campina Grande”, editado em 1999, existiam três famílias dominantes no latifundiário campinense: os Oliveira Ledos (“orgulhosos” e “desconfiados”), os Nunes e os Vianas.

          A rivalidade entre elas contribuiu bastante para o crescimento econômico e o desenvolvimento local. Em busca de conquistar a simpatia dos moradores, eles queriam mostrar o quanto detinham poder e riqueza, atributos necessários para dominar aquela região. Quando uma família trazia qualquer novidade, a outra se via na obrigação de fazer o mesmo.

        Na contramão desse poder, no centro conhecido da vila (atualmente a região próxima à Catedral de Nossa Senhora da Conceição e da Feira Central) residiam pessoas quase na miséria. Com o aumento da população, em pouco tempo, a quantidade de água no reservatório passou a ser insuficiente e, assim, foram iniciadas as construções de mais dois novos açudes: o Açude Novo (1830) e o Açude de Bodocongó (1915). Também começou a ser construída a rede de esgotos da cidade, mas não havia escape seguro para toda ela e, mais uma vez, o Açude Velho, foi usado como depósito de todo esse processo.

        A situação havia mudado muito desde a construção do açude e, em 1857, as mazelas da seca haviam sido superadas, dando lugar a outras. Lixo, fezes e lama de chiqueiros começaram a correr rumo ao Açude Velho. Assim, as doenças causadas pela precária estrutura sanitária da denominada Vila de Campina se espalharam assustadoramente. Parte da população foi dizimada pela endemia cólera -morbus. Dos cerca de 17 mil habitantes da vila, 1.547 morreram por causa da doença. Também houve surtos de febre amarela e varíola.

       Tais acontecimentos fizeram com que a Câmara dos Deputados propusesse, e legitimasse, uma lei que proibia certos hábitos, comuns para a época, como lavar roupas e pescar dentro do açude. Porém, pouco foi levado a sério, já que as multas recaíam, apenas, sobre os opositores à Assembléia Provincial da Paraíba. E, até hoje, a poluição continua.

     A Lei provincial nº. 137, de 11 de outubro de 1864, finalmente elevou a próspera Vila de Campina à categoria de cidade. Houve uma época em que alguns iam “esperar o sol”. Às quatro da madrugada, após cantarem em conjunto a parte do Ofício Divino, chamada laudes, diversas pessoas iam às margens do Açude Velho, esperar o raiar do sol.





Elpídio foi pioneiro na urbanização do açude


        O tempo passou e chegou a época áurea do algodão, produto de exportação de Campina Grande. Muito já se falou sobre a riqueza desse período, mas pouco se sabe das conseqüências maléficas que a “Liverpool” brasileira sentiu na pele. Em 1950, a cidade estava cada vez mais estruturada, a política ganhava destaque, grandes nomes surgiam no cenário campinense e eles foram de fundamental importância para o que conhecemos hoje da cidade.
A região do açude estava, ainda, com ares provincianos, descuidada e inabitada. O índice de criminalidade cresceu significativamente naquela área considerada central. Foi então que o médico Elpídio de Almeida, natural de Areia, se elegeu prefeito de Campina, por dois mandatos (1947 a 1951 e 1955 a 1959). Influenciado pelas mudanças e pelo crescimento nacional pós-Vargas, Elpídio fez uma verdadeira revolução no cenário urbano da Rainha da Borborema, com destaque maior na área de saúde.
      Construiu a primeira maternidade da cidade (que hoje leva seu nome), criou a Liga Estadual contra Tuberculose e fundou a Sociedade Médica do Município. Urbanizou ruas e deu melhor visibilidade a esta terra. Foi ele, também, o pioneiro no processo de urbanização e reestruturação do complexo do Açude Velho. Tomou a iniciativa de transformar aquele espaço num cartão-postal da cidade. Para isso, plantou palmeiras imperiais, espécie rara por essas bandas, em torno do reservatório, tornando aquele espaço mais acessível à sociedade e aumentando a segurança a seu redor. Com o progresso trazido por Elpídio, chegaram a energia elétrica da Usina de Paulo Afonso (1956) e o primeiro jornal diário da cidade (1957).
     Campina Grande chegou ao seu centenário gozando do melhor espírito jovial possível. Nesse período, a TV já havia chegado e, aos poucos, o pólo industrial começava a ser implantado. Em 1964, a cidade recebeu de presente um dos monumentos mais característicos de sua história, “Os Pioneiros da Borborema” que, até hoje, continuam às margens do Açude Velho, mostrando as raízes do povo campinense.


      
     Entre as realizações de maior vulto daquela administração campinense, se destaca o plano de aproveitamento e urbanização da bacia do Açude Velho. A imagem impõe, assim, a realização de uma obra que se tornou possível graças à obstinação do administrador, de sua força e determinação. A modernização e reforma fisionômica de uma urbe precisava de administradores com tal perfil. Fonte: A União, 10 de janeiro de 1943, Ano L, n. 113, p. 8.


 


Projeto transformou o lugar em área de lazer


      Os anos de chumbo e a década perdida haviam passado, e nada havia sido feito para retirar os esgotos das casas e fábricas campinenses do açude. Só em 1995, foi elaborado um projeto para a melhoria das suas condições. Com a execução desse projeto, mais de 70% da rede de esgoto deixou de poluir suas águas. Foram construídos, também, o calçadão e a ciclovia. As pessoas passaram a dedicar sempre uma parte do tempo do seu dia para praticar exercícios no local, melhorando o aspecto populacional naquela área. Construções valiosas se ergueram e o campinense, enfim, pode andar à tardinha na sua “orla”.
        Nesta mesma década, fora construído o Parque da Criança (1993), tornando o ambiente ainda mais verde e aprazível. Com essa valorização, veio a exploração turística do local. Sempre que buscamos uma cena campinense na memória, vemos as águas do Açude Velho, assim como o MASP, em São Paulo, o Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, ou a Lagoa do Parque Sólon de Lucena, em João Pessoa.
Esse potencial de beleza trouxe, para as margens do açude, os maiores eventos da cidade, como a Micarande, que tem boa parte do trajeto dos blocos ao seu redor, e o Maior São João de Mundo, que fica a poucos metros de lá. Essas festas, além de trazer alegria para a nossa gente e atrair milhares de turistas, movimentam a economia da cidade.
       Apesar de sua plástica, que encanta a todos, o açude continua com problemas que precisam ser solucionados. Dados fornecidos por entidades ambientalistas mostram que entre 60 e 65 por cento de sua área está assoreada e ele corre o risco de sumir, em pouco tempo, se não forem implementadas políticas públicas suficientes para impedir isso.
Mesmo com todos os problemas relativos à poluição e de alguns acontecimentos de ordem policial, o mais importante é ver que o Açude Velho se tornou um lugar de diversão, encontro de amigos, descontração e lazer.


  



 Campina é destacada na Revista Manchete, na década de 80 como importante pólo econômico e de ensino. Ao fundo ve-se o açude velho já urbanizado.




  








 

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